terça-feira, 6 de novembro de 2012

ENCONTRO COM O POETA MAIOR

         
 Em 2011 comemorou-se o centenário do Poeta Maior, no mês de outubro, quando todo o Brasil reverenciou o "homem de Itabira"( pequena cidade do interior de Minas Gerais) Carlos Drumond de Andrade. Aquele que deixou a cidade natal para viver no Rio de Janeiro e inscrever-se no cenário cultural, integrado à paisagem natural e artificial da metrópole que adotou. A expressão do poeta ganhou o mundo, revelando o potencial intelectual que nosso pais possui e a grandeza de nossos escritores. 
            Numa tarde ensolarada de verão, do dia 9 de fevereiro de 1981, quando caminhava em direção ao Castelo, no centro da cidade do Rio de Janeiro, atravessando a Rua Araújo Porto Alegre, nas proximidades do Ministério da Educação, avistei vindo em minha direção, o Poeta Maior. Atravessava a avenida, estranho, desconhecido, naquele anonimato popular em meio à multidão. Como um grão de areia, o percebi. Passou por mim, na simplicidade de um homem do povo, não percebendo ninguém como ninguém o percebia.
            DOIS MINUTOS
            No passeio público, naquela hora, o Poeta Maior cresceu ainda mais ao transitar livremente, espontaneamente, desapercebidamente como um transeunte comum que nenhum compromisso tem com o que se passa ao seu redor, embora fosse incomum, porque pude percebê-lo apesar da multidão.
            Ao cruzar o caminho do poeta, sem nenhuma pedra, e reconhecê-lo, parei do outro lado para observar onde ele iria parar. Drumond entrou num prédio ao lado do MEC. Voltei. Cheguei na porta do edifício, e vendo que o poeta estava sentado em um banco de madeira no saguão da portaria, totalmente ignorado, me aproximei e perguntei: - O senhor é o CARLOS DRUMOND ? Então, a resposta foi: - Sim. Insisti: - O Sr. CARLOS DRUMOND DE ANDRADE ? E ele respondeu: - Sim, sou eu mesmo. Apresentei-me como um leitor-fã do poeta e pedi um autógrafo, enquanto ninguém percebia que eu conversava brevemente com o Poeta Maior, em plena cidade do Rio de Janeiro, num dia útil, às quinze horas, num verão carioca. Como não dispunha de papel para assinatura,  me dirigi ao porteiro do edifício e solicitei uma folha qualquer de rascunho. Como também não havia papel, ainda no período de recessão, o porteiro ofereceu um envelope de correspondência de um banco, talvez de cobrança, devolvida. Foi o suficiente para registrar um encontro com DRUMOND, que ocorreu naturalmente numa entrevista relâmpago. Apenas dois minutos durou o diálogo, porque o poeta aguardava, descansando, para visitar o prédio do Ministério da Educação, onde foi funcionário, inclusive na Assessoria do Ministro Capanema.
            O curto espaço de tempo com o poeta Drumond marcou o prazer de ver reunidas, a sabedoria e a singeleza no gesto poético de ser no mundo. "A festa acabou / o brinquedo quebrou/ mas você não morre José/ você é duro José..."
            Não poderia deixar de render homenagem aquele que tanto contribuiu para o engrandecimento da nossa cultura, projetando a poesia ao lado dos grandes nomes internacionais. Carlos Drumond de Andrade lembra o estudo literário que retrata o homem em sua amplitude antropológica. Em seu último livro "Boca de Luar", o poeta descreve a vida cotidiana envolvida nos textos criativos. A cultura enlutou-se com a morte de um homem do povo, sem que o povo o percebesse. Mas, em suas obras encontramos os traços de popularidade ocultos pela temática universal do homem do mundo, onde as lições são transmitidas pela razão de ser.

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